Assoc. Fronteira Católica: novembro 2013

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Faleceu hoje o Cardeal Domenico Bartolucci

Cardeal Domenico Bartolucci celebrando missa prelatícia em Roma, em 8 de dezembro de 2010, por ocasião da festa da Imaculada Conceição de Nossa Senhora.
Oferecemos um trecho da tradução portuguesa de uma entrevista de Monsenhor Domenico Bartolucci, de 92 anos, nomeado por Pio XII maestro “ad vitam” da Capela Sixtina, mas afastado do cargo em 1997 devido a uma intervenção de Mons. Piero Marini. A entrevista se trata de uma iniciativa do Abbé Stefano Carusi, do site Disputationes Theologicae, do Instituto do Bom Pastor.

Maestro, a recente publicação do Motu Proprio “Summorum Pontificum” trouxe um sopro de ar fresco no desolador panorama litúrgico que nos rodeia; também o senhor pode agora, portanto, celebrar a “Missa de sempre”.
 
Mas, para dizer a verdade, eu sempre a celebrei ininterruptamente, desde a minha ordenação… Por outro lado, teria dificuldade em celebrar a Missa no rito moderno, uma vez que nunca o fiz.

Nunca abolida, então? 

São as palavras do Santo Padre, ainda que alguns finjam não entendê-las e mesmo que muitos no passado tenham sustentado o contrário.

Maestro, será necessário conceder aos difamadores da Missa antiga que ela não é “participada”…

Não digamos disparates! Conheci a participação dos tempos antigos tanto em Roma, na Basílica, como no mundo, como aqui abaixo no Mugello, nesta paróquia deste belo povo, um templo povoado de gente cheia de fé e piedade. O domingo, nas vésperas, o sacerdote poderia se limitar a entoar o “Deus in adiutorium meum intende” e logo pôr-se a dormir sobre o assento… os camponeses continuariam sozinhos e os chefes de família teriam pensado em entoar as antífonas.

Uma polêmica velada, Maestro, a respeito do atual estilo litúrgico?

Não sei se – ai de mim! – já estiveram num funeral: “aleluia”, aplausos, frases risonhas,  alguém se pergunta se essa gente leu alguma vez o Evangelho; Nosso Senhor mesmo chorou sobre Lázaro e sua morte. Aqui, com este sentimentalismo insosso, não se respeita nem sequer a dor de uma mãe. Eu lhes havia mostrado como o povo assistia a uma Missa de defuntos, com que compunção e devoção se entoava aquele magnífico e tremendo “Dies Irae”.

A reforma não foi feita por gente consciente e doutrinariamente formada?

Desculpe-me, mas a reforma foi feita por gente árida, lhes repito, árida. E eu os conheci. Quanto à doutrina, o Cardeal Ferdinando Antonelli, de venerável memória, costumava dizer com freqüência: “como fazemos liturgistas que não conhecem a teologia?”

Estamos de acordo com o senhor, Monsenhor, mas é certo também que o povo não entendia… 

Caríssimos amigos, leram alguma vez São Paulo: “não importa saber mais do que o necessário”, “é necessário amar o conhecimento ‘ad sobrietatem’”? Daqui a alguns anos se tentará entender a transubstanciação como se explica um teorema de matemática. Mas se nem sequer o sacerdote pode compreender até o fundo tal mistério!

Mas como se chegou, então, a esta distorção da liturgia? 

Foi uma moda, todos falavam, todos “renovavam”, todos pontificavam, na esteira do sentimentalismo, de reformas. E as vozes que se levantavam em defesa da Tradição bimilenar da Igreja eram habilmente caladas. Inventou-se uma espécie de “liturgia do povo”… quando escutava estas frases me vinham à mente as palavras de meu professor do seminário que dizia: “a liturgia é do clero para o povo”, ela descende de Deus e não de baixo. Devo reconhecer, contudo, que aquele ar fétido se fez menos denso. As gerações de sacerdotes jovens são, talvez, melhores que as que as precederam, não têm os furores ideológicos dominados por um modernismo iconoclasta, estão cheios de bons sentimentos, mas lhes falta formação.

O que quer dizer, Maestro, com “lhes falta formação”?

Quero dizer que queremos os seminários! Falo daquelas estruturas que a sabedoria da Igreja elegantemente cinzelou durante os séculos. Não se dá conta da importância do seminário: uma liturgia vivida, os momentos do ano são vividos “socialmente” com os irmãos… o Advento, a Quaresma, as grandes festas que seguem a Páscoa. Tudo isso educa, e não se imagina quanto! Uma retórica tonta deu a imagem de que o seminário arruína o sacerdote, de que os seminaristas, afastados do mundo, permanecem fechados em si mesmos e distantes do povo. Todas fantasias para dissipar uma riqueza formativa plurissecular e para substituí-la depois com nada.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Sermão do XXV Domingo depois de Pentecostes - Pe. René Trincado

 

Semelhante é o reino dos céus a um homem que semeou boa semente no campo. E enquanto dormiam os homens, veio seu inimigo e semeou joio no meio do trigo e se foi. Disse S. João Crisóstomo que com esta parábola, N. Senhor se refere à verdade adúltera, porque é próprio do demônio misturar o erro com a verdade. Se vale o diabo de um engano –continua o santo- confundindo sua própria semente e revestindo suas obras com cores e semelhanças que surpreendem ao que se deixa enganar com facilidade. Por isso disse que semeia joio, que é muito parecido com a planta de trigo de boa semente do semeador. O joio é semeado depois do trigo. De igual modo, o erro –segue dizendo o santo- vem depois da verdade, coisa demonstrada pela experiência: depois dos profetas vieram os falsos profetas; depois dos Apóstolos os falsos apóstolos; e depois de Cristo virá o Anticristo. Nós ainda afirmamos que depois dos concílios católicos, veio o Vaticano II, anticatólico enquanto liberal e diabólico. De fato, essa foi a pior emboscada, o maior embuste, a maior e mais desastrosa semeadura de joio de toda a história da Igreja. E também dizemos isto: que depois desse Bispo resoluto, combatente e de palavras varonis, claras e inequívocas em defesa da Fé, depois de Mons. Lefebvre veio Mons. Fellay a semear o joio entre nós com seu intento de submeter-nos aos modernistas romanos e com suas atitudes erráticas e suas palavras ambíguas.


E enquanto dormiam os homens, veio seu inimigo e semeou joio no meio do trigo e se foi. Enquanto dormiam os homens: porque – disse S. Agostinho- quando os chefes da Igreja agem com negligência... vem o diabo e semeia. É precisamente o que passa na FSSPX: dorme o Superior Geral e sonha com primaveras iminentes e concórdias com os inimigos, enquanto tenta que durmam os sacerdotes e aos fiéis a fim de que não reajam contra a cabeça semeadora de joio e infeccionada de liberalismo.

E chegando os servos disseram: Senhor, não semeaste boa semente em teu campo? Pois de onde vem o joio? E lhes disse: o homem inimigo fez isto. O “homem inimigo” é o demônio e os que fazem as obras do diabo. Pois bem: a arma de que se valeu o demônio inimigo para dar o golpe feroz do Vaticano II é a ambigüidade. O Vaticano II é uma obra mestra de ambigüidade, de palavras confusas, de expressões equivocas. Não obstante, o atual Superior Geral da Fraternidade, o líder nominal dos anti-liberais, também faz uso habitual da ambigüidade.

Ambíguo é o que pode entender-se de vários modos ou admitir distintas interpretações, como quando Mons. Fellay fala, em sua Declaração Doutrinal de abril do ano passado, dos “Sacramentos legitimamente promulgados pelos papas Paulo VI e João Paulo II”. O veneno, o joio, está na frase “legitimamente promulgados”, porque esta pode entender-se de modos diversos e opostos. Os tradicionalistas devem entender que o Superior Geral afirma que esses Sacramentos foram promulgados de modo regular, isto é, com sujeição às formalidades legais correspondentes. Neste sentido uma lei de aborto pode estar legitimamente promulgada, ainda que em si seja ilegítima por injusta e criminal. Os modernistas, de sua parte, devem entender que o Superior Geral considera legítimos em si esses Sacramentos. Pois bem: este modo de falar não é católico senão é diabólico, por vir de quem se supõe que encabece a luta em defesa da Verdade católica na pior crise de fé da história. O véu da escuridão com que as expressões ambíguas cobrem a verdade, se opõe à claridade de Quem disse “Eu sou a Verdade”, “Eu sou a Luz” e “vós sois a luz do mundo”. Disse o Pe. Sardá y Salvany em sua obra “O Liberalismo é Pecado” que a linguagem confusa na boca dos Pastores “é escândalo... é induzir ao próximo ao erro com palavras ambíguas... é... semear dúvidas, desconfianças, fazer vacilar na fé às inteligências sensíveis”... “É preciso antes de tudo... evitar o equívoco, que é o que mais favorece ao erro”. “É grande professor o diabo nas artes e enganos, e o melhor de sua diplomacia se exerce em introduzir nas idéias a confusão. A metade de seu poder sobre os homens perderia o maldito se as idéias, boas ou más, aparecessem francas e contrastantes... O diabo, pois, em tempos de cisma e heresias, o primeiro que procurou foi que se embaralhassem e mudassem os vocábulos; meio seguro para fazer desde cedo tontas... a maior parte das inteligências” (idem).

Se poderiam dar muitos outros exemplos de palavras ambíguas por parte de Mons. Fellay. Sua constante semeia de joio causou grave inquietude, desconfiança, confusão e divisão entre os Sacerdotes e fiéis da FSSPX. Sem necessidade de nenhum acordo com Roma, o joio constantemente semeado pelo Superior Geral é um veneno que está matando lenta mas inexorávelmente à congregação. Em sua carta de 7 de abril de 2012 a Mons. Fellay, os outros três Bispos afirmam que se vê na Fraternidade uma diminuição na confissão da Fé. Contudo, o responsável pelo colapso da congregação teve o atrevimento de desculpar-se culpando aos que se opuseram à sua traição, disse que estes são os semeadores de joio. Em uma entrevista sobre o Capítulo Geral, em 16 de julho de 2012, teve o descaro de dizer o seguinte: “nos separamos claramente de todos os que quiseram aproveitar a situação para semear joio, opondo uns membros da Fraternidade com outros. Este espírito não é de Deus”. Suas mesmas palavras o condenam. E em um sermão de 11 de Novembro do ano passado, disse: “Vimos até em nossa querida Fraternidade, uma confusão, uma má erva, um joio, uma turbação.” Mas, na carta que 37 Sacerdotes do Distrito da França lhe dirigiram em fevereiro passado lemos: “Pode dizer, em consciência que tu e seus assistentes assumiram suas responsabilidades? Depois de tantas declarações contraditórias e nefastas, como pretendem que podem governar ainda? Quem é que prejudica à autoridade do Superior Geral, senão tu mesmo e seus Assistentes? Como pretende falar-nos de justiça depois de lhe lesionar? Quê verdade pode sair da boca do mentiroso? (Ecl. XXXIV, 4). Quem semeou joio? Quem foi subversivo usando a mentira? Quem escandalizou os sacerdotes e fiéis? Quem mutilou a Fraternidade diminuindo sua força episcopal? Quê é a caridade sem a honra e a justiça?

Estimados fiéis: o que nos une é a defesa da Verdade. Nos chamamos e somos a Resistência Católica porque combatemos contra todo inimigo da Verdade, da Verdade que é atacada não só por meio da mentira, senão também e mais eficazmente mediante a ambigüidade. A ambigüidade é a manifestação pública da fé católica em tempos de apostasia geral, como são os nossos, é uma traição gravíssima a Cristo, um pecado extremamente abominável. Se amamos realmente a Verdade, devemos rejeitar aos semeadores de joio, aos maus pastores que com palavras confusas fazem a obra do demônio, adulterando a Verdade.

Tradução: Grupo Dom Bosco