Assoc. Fronteira Católica: Transigir, não! Reagir!

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Transigir, não! Reagir!

É de transigência o momento que atravessamos: transigências que abaixam os caráteres, fazem descer o nível dos costumes e arrastam a sociedade a todas as acomodações e por elas, a todos os crimes.

Transige-se por falta de convicções arraigadas; transige-se com a Fé, transige-se com a moral e se formam aos poucos consciências frouxas, embotadas, sem delicadeza, sem escrúpulos; consciências relaxadas e errôneas, que mascaram suas vergonhosas acomodações sob o pretexto pomposo e moderno de... 'largueza de vistas!' E essa transigência é uma covardia. Por falta de coragem segura que nos traça o nosso título de Cristãos e de Filhos de Maria, em vez de levantarmos o ambiente à altura de nossos ideais norteados por uma Fé esclarecida, nos abaixamos a seguir humildemente e sem escrúpulos os preconceitos da era pagã que atravessamos. Porque não há dizer, é de paganismo requintado o espírito do século em que vivemos: são pagãos os seus princípios e preconceitos; pagão os seus ritos em que a forma prevalece sobre o fundo, em que a beleza serve de capa a todos os requintes do sensualismo.

É pagã a literatura em voga; pagãos os espetáculos que freqüentamos; ultra pagãos as danças e as modas; pagão e arquipagão a deificação do prazer que é o característico dos nossos dias.

"Um vento de loucura sopra sobre o mundo; procuram-se com frenesi distrações e prazeres; gasta-se desmedidamente sem cuidar do dia seguinte; aproveitam-se lucros imorais, que reduzem os pobres à fome sem restaurar a fortuna pública; os salários dos operários atingem proporções fantásticas e as dificuldades aumentam com os salários.
Esta sociedade que a fome espreita, perde o gosto do trabalho; ela se diverte. Fala-se de onda de preguiça. A guerra desencadeou sobre o país (leia-se sobre o mundo) uma onda de corrupção".

"O amor do prazer e do dinheiro, escreveu a propósito um jesuíta francês, desequilibrou as consciências que perderam o senso do justo e do honesto, o discernimento do bem e do mal. O magnífico impulso que nos primeiros anos da guerra levava as massas à Igreja, se moderou progressivamente para se tornar, no dia da vitória, em mais de um lugar, a deserção. Agravou-se ainda, por aí, a crise moral: diminuindo a pratica religiosa, a Fé teve sobre a vida menos ação e conseqüentemente, seguindo sua inclinação natural, a multidão, em massa, amontoou-se nos lugares de diversões, sem nenhum escrúpulo na escolha dos prazeres que uma reclame sem pudor lhe oferecia em todos os cantos.
“A sombra de nossas Igrejas e de nossas Catedrais as multidões apinhadas nos espetáculos baixamente imorais ou turbilhonando em danças libertinas, faziam pensar em Cristãos perjuros, de volta ao culto das divindades que a Cruz derroca.”

 

“Infelizmente, o espetáculo que nos oferece a sociedade é a demonstração desta afirmação; perdeu-se o senso do justo e do honesto, o discernimento do bem e do mal.”
Era esta a observação que me fazia de mim para mim, ao ler e ao ouvir comentários sobre a estação da companhia dramática francesa que se acaba de encerrar no nosso Teatro Municipal. O repertório, com raras exceções, não era moral e algumas peças deviam repugnar, não só a alma que se presume pura e fresca de uma donzela cristã, senão a qualquer pessoa de mais elementar delicadeza. Pois bem, perdeu-se de tal modo a compreensão do honesto que, contanto que sejam revestidas de um fraseado elegante, ditas com donaire e com chiste, todas as imoralidades são toleradas e aplaudidas na cena do principal teatro da nossa Capital.

Mais triste, porém, ainda é um fato que denota quanto a sociedade está solapada em seus alicerces pelo cancro da dissolução dos costumes; o expoente dessa dissolução, o sinal mais característico desse estado de coisas é o desprendimento criminoso com que os pais arriscam suas filhas, mocinhas de dezoito a vinte anos, a ir e ouvir e ver o desenrolar de cenas de peças que não conhecem, mas que o simples nome do autor oferece uma certeza prévia de que não podem ser convenientes...

Tanto mais quando algumas, pelos títulos, verdadeiros chamarizes para despertar uma curiosidade má, nem aos ingênuos reservam a menor surpresa. Se não é um sinal característico de dissolução de costumes esse desprendimento das mães pelo recato de suas filhas, o tesouro que elas deveriam cercar da maior auréola, eu não vejo nenhum que se lhe possa comparar.

E as nossas mocinhas, loucas borboletas que já nas telas dos cinemas se habituaram a ver, antes do tempo, o espetáculo de todas as misérias morais e de todas as realidades prosaicas da vida, sob pretexto de que nada lhes faz mal; essas mocinhas vão a pouco e pouco perdendo o senso do justo e do honesto e afazendo sua mentalidade a todos os espetáculos prejudiciais, amorais e imorais, de sorte que quando na vida se encontram com fatos idênticos já não lhes repugnam e adotam muitas vezes as soluções errôneas que viram nos filmes em que a última preocupação é justamente a moral.

Sim, hoje tudo depende da moda: à ela, esta deusa onipotente, se subordinam os ditames da própria consciência, afim de conciliar coisas entre si inteiramente inconciliáveis, como o espírito de Deus e o espírito do mundo, aquele mundo pelo qual Nosso Senhor Jesus Cristo não orava.

Se é elegante freqüentar esta ou aquela Igreja, ouvir este ou aquele pregador, fazer parte desta ou daquela obra religiosa ou social, despendem-se todas as energias, fazem-se todos os sacrifícios para merecer a fama e a adjetivação que os jornais em suas seções mundanas tão prodigamente distribuem.

 

Ao lado disso, e com igual empenho se respeitam os ditames das modas mais excêntricas e mais pagãs, no trajar, nas relações, nos espetáculos, nas leituras, nas danças, na mentalidade, enfim, que se vasa sobre o espírito da época muito mais do que no espírito do Evangelho.

Assim é que essas cristãs que servem dois senhores, à custa de transigências e de acomodações pouco sinceras e covardes, vão perdendo progressivamente a noção do reto e do justo, e personificando a Fé que não age, que não orienta a vida, a Fé morta, de que fala S. Agostinho: outros tantos monumentos em ruínas que só conservam alguns palmos de fachada, essa mesma já carcomida pelos destroços de um cataclisma... Verdadeiras pedras de escândalo para os indiferentes e os ignorantes em matéria religiosa, que pensam encontrar numa alma que se diz cristã a encarnação da doutrina que abraça, do credo a que se orgulha de pertencer.

Porque entretanto, essa contradição entre as práticas e as mentalidades pagãs das nossas moças, para as quais o fim da vida parece ser gozar? Porque essas transigências covardes, essas acomodações que fazem das nossas cristãs - para que não dizê-lo? - de algumas Filhas de Maria verdadeiros joguetes da moral e dos mais abtrusos preconceitos mundanos?
Infelizmente, já tivemos ensejo de o dizer, é uma falta de sinceridade ou de instrução religiosa - em uma palavra: falta de convicções. É falta de saber arcar com as responsabilidades que devem decorrer dos princípios diretores de nossa vida; por isso, tudo hoje é fictício e mentiroso, tudo é emprestado: desde as cores do rosto, dos ademanes copiados dos artistas do cinema, das mentalidades hauridas nos romances do dia, até... supremo absurdo! a consciência que se adelgaça ou se contraí, em suma, se dobra às exigências dos preconceitos da época.

Ora, proceder assim é ser mundano, é estar no tom da sociedade pagã que é a dos nossos dias, mas não é estar no diapasão da lei do Evangelho, que por ser perfeita é imutável e sempre desabrochou em flores de virtude e de santidade, até nas eras mais corrompidas.

A consciência reta não se acomoda e não transige com o mal; mais ao invés, reage, ainda que seja esmagada na sua ânsia de defender os direitos de Deus e da virtude.
Daí, vem que os justos sofrem perseguição pela justiça.

Mas, é tão belo ter o ardor do bem e realizá-lo, mesmo à força de sofrimentos e de heroísmo!

Sta. Teresinha do Menino Jesus
 O nosso papel de Cristãs, não é, pois, aceitar passivamente a situação de transigência tão cômoda para as almas infiéis que se recusam à luta. É sofrer, se for preciso, mas olhar para o Céu e negar o concurso da nossa ação a tudo quanto pode repugnar à uma consciência esclarecida e reta.

 

É preciso não aceitar fatos consumados e remando contra a maré, embora ter como norma estas palavras que denotam uma alma desassombrada e independente: Transigir, não; reagir!


S. de F.
Texto publicado no periódico "Apostolado das Filhas de Maria no Brasil" e divulgado por folhetinhos "Bôa Leitura para as Filhas de Maria", distribuído como lembrança do Mês do Rosário de 1922 com Imprimatur do então Arcebispo de S. Paulo, Dom Duarte.

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