Assoc. Fronteira Católica: julho 2013

sexta-feira, 19 de julho de 2013

E Satã dirige o baile

[...] Mas, se apenas fôssem nossos instintos e nós próprios. Mas o demônio chega com todas as suas astúcias para avivar nossas paixões e nos atrair longe de Deus. Usa fartamente os diversos recursos da propaganda moderna. A civilização constitui, a seu serviço, variações apenas de um tema fundamental: "Gozar! Gozar!".

Liguem o rádio e escutem qualquer programa de canções. Certamente, não ouvirão convites diretos à impureza. Satã é bastante hábil para não apresentar em sua fealdade real as diversas formas da devassidão: fornicação, adultério, violação, amor livre. São palavras que por si só afugentariam qualquer pessoa honesta. A realidade ignóbil é, pois, envolvida por uma música sedutora e aparentemente inofensiva. Vozes ternas cantam "o amor, o grande amor, o doce amor", aquêle em que duas cobiças encontram o frenesi, dois corpos o gozo. Nunca a menor evocação do verdadeiro amor, o amor bendito por Deus, o amor que não é a posse voluptuosa da carne, mas a doação casta, serena e definitiva de dois seres participantes do Amor criador e redentor. Nunca dizem que a união de dois corpos só tem valor real, humano e divino, à medida que confirma a união dos corações e das almas num casamento legítimo. Os cantores voltam sempre, depois de devaneios, ao sempiterno leitmotiv:

"Quando estou nos braços teus,
Então, aos olhos meus
A vida é cor-de-rosa..."

Os ouvintes e as ouvintes que escutam essas canções freqüentemente, acabam por acreditar que sua vida será fracassada se não se entregarem totalmente aos prazeres carnais.

À superexcitação das paixões por essas lânguidas melodias juntam-se os estímulos, não menos pérfidos, que entram pela sensibilidade por meio de cartazes em que se expõem os nus. Há também os romances em que amantes extremamente simpáticos violam com êxito as leis de um decálogo apresentado como desumano.

Há as conversas em que se zomba dos que se submetem a preceitos considerados ultrapassados e ridículos pelos debochados.

Em suma, Satã está aqui, lá, em toda parte, espalhando pelas maneiras mais diversas o seu slogan favorito: "Gozar! Gozar!".

Se ainda Asmodeu, o demônio da carne, fôsse o único a andar pelo mundo! Mas não! Como diz o Evangelho, ele chama em seu auxílio mais sete demônios piores do que ele. Vejam, por exemplo, o demônio da embriaguez: como é sagaz!

Os anúncios dissimulam bem os efeitos nocivos dos licores inebriantes e nem sequer fazem a menor alusão ao mal-estar que, na maior parte das vezes, faz um verdadeiro inferno do "dia da ressaca". Segundo os anúncios a bebida tem todas as virtudes: estimula ou acalma segundo as necessidades, esquenta ou refresca, tonifica, dá ao organismo um delicioso bem-estar. Nunca se fala, nesta publicidade diabólica, dos crimes cometidos pela embriaguez.

Para evitar qualquer equívoco, afirmamos que nada há a censurar no uso moderado da bebida. Somente o abuso é condenável, mas é justamente esse abuso que favorece a publicidade ousada. Satã deve se regozijar com a excelente exploração de seu tema favorito: "Gozar! Gozar!".

A inimiga do demônio

No começo do mundo, logo após o pecado original, o Criador disse ao demônio, representado pela serpente: "Criarei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua e a sua posteridade. Ela pisará tua cabeça..." (Gn. III, 15).

Nesse momento precisou-se a missão que Deus reserva à Nossa Senhora. De fato, a Mãe de Jesus sempre lutou contra Satã. É, pois, natural que em nossa tão atribulada época Deus a tenha enviado à Fátima como embaixatriz, para esclarecer a humanidade enganada pelas mentiras de Satã. As aparições da Cova da Iria marcam o início de uma vigorosa contra-ofensiva.

Contra a propaganda satânica que prega o prazer e o pecado, Nossa Senhora opõe uma propaganda celeste a favor da penitência que leva à fidelidade a Deus. No dia 13 de outubro de 1917, ela declarava à Lúcia, Jacinta e a Francisco: "Vim para exortar os fiéis a mudarem de vida... e a fazerem penitência por seus pecados".

Convidando assim os fiéis à penitência, a Virgem Mãe nada anunciou de novo. Lembrou somente a um mundo ébrio de prazer, uma das leis fundamentais do Evangelho. Em muitos lugares, esquecia-se que, para ser católico, é preciso ser discípulo de Jesus, e de Jesus crucificado. Tentava-se conciliar o inconciliável, servir ao mesmo tempo a dois senhores. Jesus e Satã. Em Fátima, a Virgem veio repor em plena luz o ensinamento do Mestre infalível.

Pe. Marcel-Marie Desmarais, O. P.