Assoc. Fronteira Católica: outubro 2013

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Deveres de estado

Por Thiago Maria


OBRIGAÇÕES DOS CHEFES DE FAMÍLIA

1- Sustentar a família conforme o próprio estado.
2- Não dissipar os bens da família em jogos nem em vaidades.
3- Pagar pontualmente o ordenado aos criados, jornaleiros.
4- Vigiar sobre os costumes de seus filhos e dependentes.
5- Procurar que frequentem a palavra de Deus e os santos Sacramentos.
6- Corrigí-los com prudência.
7- Castigá-los sem paixão de ira etc.
8- Tratá-los com benevolência.
9- Tê-los ocupados.
10- Assistí-los em suas doenças.
11- Edificá-los com o bom exemplo.
12- Encomendá-los a Deus, e proporcionar-lhes bons mestres, patrões etc.
13- Procurar a devida separação entre filhos e filhas, e pessoas de diferente sexo.
14- Não admitir pessoa alguma que possa, com suas conversações, ou de qualquer outra maneira, ser motivo de escândalo à família.

OBRIGAÇÕES DOS FILHOS E DEPENDENTES

1- Olhar e considerar os pais e patrões como representantes de Deus.
2- Amá-los de coração.
3- Respeitá-los devidamente e falar bem deles, tanto em sua presença como em sua ausência.
4- Obedecer-lhes com prontidão.
5- Serví-los com fidelidade.
6- Socorrê-los em suas necessidades.
7- Sofrer seus defeitos, calando sempre.
8- Rogar a Deus por eles.
9- Ter cuidado das coisas de casa.

OBRIGAÇÕES DOS MARIDOS

1- Amar a sua mulher,como Jesus Cristo a Igreja.
2- Não desprezá-la, porque é companheira inseparável.
3- Dirigi-la como inferior.
4- Ter cuidado dela,como guarda de sua pessoa.
5- Sustentá-la com decência .
6- Sofrê-la com toda paciência.
7- Assisti-la com caridade.
8- Corrigi-la com benevolência.
9- Não maltratá-la com palavras nem obras.
10- Não fazer nem dizer coisa alguma diante dos filhos , ainda que pequenos, que possa ser para eles motivo de escândalo. 

OBRIGAÇÕES DAS ESPOSAS

1- Estimar o marido.
2- Respeitá-lo como a sua cabeça.
3- Obedecer-lhe como a seu superior.
4- Assisti-lo com toda a diligência.
5- Ajudá-lo com reverência.
6- Responder-lhe com mansidão.
7- Calar quando estiver zangado e enquanto durar a zanga.
8- Suportar com paciência seus defeitos.
9- Repelir toda a familiaridade.
10- Cooperar com o marido na educação dos filhos.
11- Não desperdiçar as coisas e os bens da casa.
12- Respeitar os sogros como pais.
13- Ser humilde com as cunhadas.
14 -Conservar boa harmonia com todas as pessoas da casa.

OBRIGAÇÕES DOS JOVENS

1- Assistir ao catecismo.
2- Respeitar os anciãos.
3- Evitar as diversões perigosas.
4- Fugir da ociosidade e de companhias suspeitas.
5- De noite não voltar tarde para casa.
6- Mortificar o próprio corpo.
7- Evitar namoros, cantigas profanas etc.
8- Não tomar ocultamente nenhuma coisa, nem que seja da própria casa.
9- Rogar a Deus e tomar conselho de homens prudentes, para acertar na eleição do estado que deve tomar.

OBRIGAÇÃO DAS DONZELAS

1- Em todas as ações guardar suma modéstia.
2- Ser mui considerada nas palavras.
3- Não desejar ver nem ser vista.
4- Não vestir com vaidade.
5- Fugir de conversas a sós com homens.
6- Abominar os namoros, bailes, teatros e etc.
7- Amar os exercícios de piedade.
8- Fazer alguma discreta mortificação.

OBRIGAÇÕES DAS VIÚVAS

1- Ser modelo de virtudes para as donzelas e casadas.
2- Amiga de retiro.
3- Inimiga da ociosidade.
4- Amante da mortificação.
5- Dada à oração.
6- Zelosa de seu bom nome.

OBRIGAÇÕES DOS RICOS

1- Agradecer a Deus os bens recebidos.
2- Não pôr sua confiança neles.
3- Não acrescentá-los com usuras.
4- Não conservá-los com injustiças.
5- Não se servir deles para fomentar nenhuma paixão.
6- Ser caridoso com os pobres e com a Igreja.
7- Pensar amiúdo que os ricos estão em muito perigo de condenar-se pelo mau uso que fazem das riquezas.

OBRIGAÇÕES DOS POBRES

1- Resignar-se à vontade de Deus em sua pobreza.
2- Não apropriar-se de coisas alheias nem mesmo sob o pretexto de necessidade.
3- Industriar-se para adquirir um honesto bem-estar.
4- Procurar enriquecer-se em bens eternos.
5- Lembrar-se que Jesus Cristo e Maria Santíssima foram pobres.

OBRIGAÇÕES DOS NEGOCIANTES

1- Contentar-se com um ganho moderado.
2- Dar a todos o justo no peso e na medida.
3- Não falsificar os gêneros.
4- Não apoderar-se de todo um gênero ocasionando a miséria ao povo.
5- Guardar-se de toda a classe de fraude ou engano.
6- Ter caridade com os pobres.

OBRIGAÇÕES DOS ARTÍFICES E JORNALEIROS

1- Oferecer a Deus com frequência todas as privações e fadigas.
2- Trabalhar com toda a diligencia e exatidão.
3- Não trabalhar em dia santo, não enfadar-se nem blasfemar.
4- Não reter as coisas alheias.
5- Não ocasionar gastos, nem causar prejuízos a seus próprios patrões.
6- Não perder tempo.
7- Não faltar à palavra dada.
8- No trabalho não murmurar, nem ter conversações livres etc.

O CAMINHO RETO 
Obrigação de vários estados
(St Antônio M. Claret)

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Sermão do XXI Domingo depois de Pentecostes - Dom Tomás de Aquino em Foz do Iguaçu

Sermão na Festa de Cristo Rei - Pe. René Trincado


Esta festa pode parecer um anacronismo sem sentido, porque é verdade que Cristo é Rei, mas também é verdade que Cristo foi destronado. Nosso Senhor deve reinar sobre almas, famílias, Estados, mas os homens lhe disseram não queremos que Este reine sobre nós, como os maus súditos da parábola das minas. Os liberais destronaram a Cristo.

O Papa Leão XIII disse: é incalculável o número de almas que se condenam à causa das condições que os princípios do Direito liberal impõem aos povos. Estas palavras foram ditas em fins do século XIX. O que pensar do século XX? E nem falemos de nosso século.

Esta festa foi instituída por Pio XI em 1925, em plena luta entre a Igreja e a maçonaria, essa maldita besta promotora do liberalismo. E o satânico liberalismo triunfou com o Concílio Vaticano II, nele foi que a hierarquia se rendeu aos falsos princípios liberais, os fez seus, e os ensina desde então em Nome de Cristo. Os pastores se convertem em lobos: a Hierarquia liberal da Igreja ensina a mentira em Nome da Verdade que é N. S. Jesus Cristo. Os Papas, desde João XIII adiante, os Bispos e os Padres, se fazem envenenadores das almas.

Algumas dessas mentiras maçônicas-diabólicas, alguns desses falsos princípios são: a separação de Igreja-Estado, a liberdade religiosa, o democratismo, e a soberania popular, a doutrina dos chamados “direitos humanos”. Todas estas falsas doutrinas nasceram no segredo das obscuras lojas e agora são difundidas não só desde as tribunas dos políticos, senão também desde todos os púlpitos e desde a mesma Sé de Pedro.

Por isso, ante a evidência da vitória do liberalismo sobre os direitos reais de Cristo, podemos perguntarmos se vale à pena seguir falando da realeza social de N. S. Jesus Cristo. A resposta, junto com a explicação da atual derrota, podem ser encontradas nas Sagradas Escrituras, especialmente no Salmo II:

Por quê se amotinam os povos – diz o salmo- e as nações tramam planos vãos? Isto se cumpre hoje ao pé da terra e mais claramente que nunca. O instigador desta rebelião é o diabo, de quem disse o Espírito Santo a Jeremias: desde os séculos quebraste meu jugo, rompeste minha cadeia e disseste: não te servirei. Non serviam. Não te servirei, senão que serei livre. Esta idéia diabólica de liberdade como independência de Deus é a essência do liberalismo. Disse Santo Tomás de Aquino que o diabo tenta desde o princípio apartar o homem da obediência a Deus, baixo o pretexto de liberdade (Suma Teológica III c. 8 a. 7), mas não é senão até o século XIX que o demônio logra inspirar à humanidade um sistema de pensamento que exalta a liberdade até o grau de colocá-la no lugar de Deus. Esse é o liberalismo: a idolatria da deusa liberdade. Se amotinam os povos: vivemos em um motim permanente, em “estado de revolução”. A Revolução Francesa, a violenta demolição da antiga ordem cristã e sua substituição pela ordem – ou, melhor dizendo, desordem- liberal, começou em 1789, mas não terminou. O Card. Ratzinger disse, em certa ocasião, que o concílio Vaticano II “foi um 1789 na Igreja”.

Segue o salmo dizendo: Erguem-se os reis da terra e os príncipes se confabulam unidos contra Deus e contra Seu Ungido, isto é, contra Cristo, pois Cristo significa ungido. Todos os poderosos do mundo, liberais de esquerdas e de direitas; os Caifás, os Herodes, e os Pilatos de todos os tempos e do presente: sobre suas diferenças, os unem a comum oposição a Cristo: todos são liberais.

Seguinte versículo: Quebremos seu jugo, disseram eles, e afastemos para longe de nós as suas cadeias! Fora correntes, fora jugos! Liberdade! Liberdade! Grito de guerra este que lhes ensina seu pai, o demônio. Os sediciosos ou revolucionários, os sodomitas e, em geral, os grandes criminosos, são chamados “filhos do diabo” na Bíblia. Quebremos seu jugo: os vínculos da Fé e da Caridade. Afastemos de nós suas cadeias: a moral verdadeira, os deveres do Cristianismo e a mesma Cruz de Cristo (“porque meu jugo é suave e meu fardo leve”). Sem dúvida, estes jugos e cadeias são o que nos une a Deus e salva nossas almas.

Aquele, porém, que mora nos céus, se ri, o Senhor os reduz ao ridículo. A seu tempo lhes falará em sua Ira, continua o salmo. Devemos ter ânimo, porque ainda que reconhecemos a derrota atual e passageira dos direitos soberanos de Cristo, também temos certeza absoluta – causa da Fé Divina- na vitória final de Cristo sobre todos os seus inimigos.

Termina o salmo dizendo: Bem-aventurados todos os que se refugiam nEle. Estas palavras assinalam qual deve ser nossa atitude: nenhuma dúvida dos direitos que Cristo tem como Rei de tudo e todos; nenhum negócio ou acordo traidor com o inimigo: o demônio e seu liberalismo, senão resistir contra tudo e contra todos refugiando-nos na Fé verdadeira e nas verdades de sempre, mantendo-nos firmes e intransigentes em nosso posto de combate nesta guerra, ainda que o território esteja arrasado e ocupado pelo inimigo; para o qual, ante tudo, devemos procurar que Cristo reine ali onde é possível fazermos que Reine e não seja destronado jamais: em nossas almas. Submetemo-nos totalmente a Deus, obedecer sempre a sua vontade: isso é ser anti-liberal convencido e militante; católico cabal, resoluto e combatente. Se não fazemos isto, há uma mentira em nós, uma certa hipocrisia, e terminaremos mais ou menos liberais.

E para que Cristo reine em nossas almas, estimados fiéis, devemos recorrer a três meios principais: cumprir seus mandamentos, freqüentar os sacramentos e rezar, e em particular rezar o Santo Rosário, porque Nossa Senhora prometeu em Fátima: por fim, meu Imaculado Coração triunfará. E quando triunfar o Coração de Nossa Mãe, triunfará o Coração Sacratíssimo do Rei nosso e de todos e de tudo, o Coração de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Tradução: Grupo Dom Bosco

Sermão do XXII Domingo depois de Pentecostes - Pe. René Trincado

General Gorostieta
 E disse Nosso Senhor Jesus: “Dê a César o que é de César, e a Deus, o que é de Deus”.
Cristo é Rei não só da Pátria celestial, senão também da pátria terrena. Por isso o patriotismo é uma virtude querida por Cristo e fomentada pela Igreja Católica. As pátrias nos foram dadas por Deus, são um presente de Deus. E Ele quer que a terra onde nascemos nos seja mais amada que as outras. O amor à pátria é um dever sagrado para os católicos, pelo que não se concebe um bom católico que não seja, ao mesmo tempo, um verdadeiro patriota. E se alguém se diz católico mas não ama sua pátria, é mais mentiroso e traidor que católico.
O dever de ser patriotas nos vêm do Quarto Mandamento e nestas palavras Cristo nos incuca: Dê a César o que é de César e a Deus o que é de Deus. Esta frase de Cristo não significa a separação da Igreja e do Estado, como ouvimos até não querer mais e querem os maçons, os “católicos liberais” e os demais inimigos de Cristo. Neste país, por exemplo, faz mais de um século e meio que aconteceu o ímpio divórcio entre Igreja e Estado, e em todo o mundo os desastrosos resultados desse rompimento estão à vista. É que o demônio busca separar o que Deus uniu e unir o que Deus separou. A doutrina maçônica da separação da Igreja e Estado foi claramente condenada pelo Magistério Infalível; mesmo assim, os Papas modernistas e toda a Hierarquia da Igreja, desde o desastroso Concílio Vaticano II, a ensinam como se fosse uma verdade católica. Bento XVI disse da separação da Igreja e Estado, em certa ocasião, que “é um grande progresso da humanidade”. Francisco vai exatamente pelo mesmo caminho infernal.
No plano dos princípios e fazendo abstrações da atual crise da Igreja, se deve dizer que o Estado não pode estar separado da Igreja, não pode ser independente da Igreja. O Estado deve estar unido e submetido à Igreja, como o corpo à alma, e o mais baixo ao mais elevado. Por quê? Porque os Estados também são de Deus. Há algo que não seja de Deus? Dê a Deus o que é de Deus: dê todos os homens e todos os Estados a Deus.
E dê a César o que é de César. O César significa o poder terreno, a potestade do Estado. Quê devemos dar-lhe? Serviço material, impostos, respeito e obediência em todos os assuntos em que tem direito a exigi-la. O César também significa a Pátria terrena, e à ela se deve amor. Quando o César, como poder temporal, se opõe a Deus, o que se lhe deve é resistência e combate. Nada pode ser neutro no confronto entre um Governo e Deus. Neste caso o Governo deve ser combatido e Deus deve ser defendido, inclusive por armas, como na guerra dos Cristeros. Tal combate contra o César é em defesa de Cristo, de seu Supremo Direito de dominação, e também na defesa da Pátria, porque ela não deve estar submetida ao jugo diabólico, senão ao jugo suave de Cristo Rei.
Mas cedemos a palavra a quem compreendeu, como poucos, o que isso de dar a Deus o que é de Deus e a César o que é de Cesar, o General Gorostieta, esse grande defensor dos direitos de Deus contra o César maçônico na guerra cristera. Para nós esta carta é de grande interesse, pois nela se fala desses ... bispos e sacerdotes traidores que, com ilusões de uma paz que é segundo o mundo, sob o pretexto da paz, acabam ocasionando a derrota dos que cumprem com o sagrado dever de combater pela paz de Cristo.

Desde que começou nossa luta – disse o general – a imprensa... não deixou de se ocupar... de possíveis  arranjos entre o... governo e algum outro membro... do Episcopado mexicano, para terminar com o problema religioso. Sempre que tal notícia aparece, sentem os cristeros que, na luta,  um calafrio mortal os invade, mil vezes pior que os perigos, dos quais estavam prontos para enfrentar...

Se os bispos ao tratar com o governo desaprovaram nossas atitudes... e tratam de dar uma solução ao conflito de modo independentemente do que nós desejamos, e sem dar ouvidos a uma enorme multidão que tem todos os seus interesses, se se esquecem de nossos mortos; se não consideram nossos milhares de vidas e órfãos, então levantaremos com raiva nossa voz e... rechaçaremos tal atitude como indigna e traidora...

O que nos falta em força material não pedimos aos Bispos, obtemo-lo por nosso esforço ; se pedimos força moral aos Bispos que nos faria onipotentes está nas suas mãos damo-la , apenas unificar seus critérios e orientar o nosso povo para cumprir com seu dever, aconselhando-os uma atitude digna e própria de cristãos.

Acredito que seja meu dever declarar de uma maneira enfática e categórica que o principal problema que tiveram de enfrentar os líderes desse movimento não é o de equipamentos. O principal problema tem sido e segue sendo evitar a ação nociva e fatal que provoca no ânimo do povo os atos constantes de nossos bispos, e alguns senhores padre e presbíteros.

Nós tínhamos contado com equipamentos e contingentes abundantíssimos se em vez de cinco estados da República tinha respondido ao grito de morte liberado pelo país trinta ou mais dioceses. O... poder do tirano... tinha caído quebrado ao primeiro golpe de massa... (se) os príncipes de nossa Igreja tivessem estado de acordo unicamente para declarar que: “ a defesa é lícita e em seu caso obrigatória”.

Ainda é tempo de que, ensinando-nos o caminho do dever e dando prova de virilidade, se ponham francamente nesta luta de lado da dignidade e do decoro. (extrato da carta do General Gorostieta ao Episcopado do México sobre “Os Arranjos” de paz (16-05-1929).

Estimado fiéis: aprendamos do brilhante exemplo do General Gorostieta e de todos os cristeros, a amar resolutamente a Deus e a pátria. Dar a Deus o que é de Deus: esforcemo-nos a amar ardentissimamente a Cristo e não nos movamos jamais do posto de combate que temos nesta trincheira chamada “Resistência”. Deus nos tem nela para rechaçar todo “arranjo” de acordo com os liberais e modernistas demolidores da Igreja. A fé não se negocia. Dar a César o que é de César: hoje não se nos exige empunhar as armas, mas talvez de manhã; mas todos podemos fazer, cada dia, e sem grande esforço, uma grande obra de patriotismo, de verdadeiro e santo amor a pátria. Qual? Pois ponha todos os dias a pátria nas mãos de Deus, pondo-a nas mão puríssimas e santíssimas da Santíssima Virgem Maria, mediante a reza diária do santo, milagroso, todo-poderoso e divino Rosário.

Tradução: Grupo Dom Bosco

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Para a Salvação é necessário o sacrifício da vontade própria

Qui facit voluntatem Patris mei, qui in coelis est, ipse intrabit in regnum coelorum — “O que faz a vontade de meu Pai que está nos céus, esse entrará no reino dos céus” (Matth. 7, 21).

Sumário. O que faz a vontade de Deus, entrará no céu; o que não a faz, não entrará. Se portanto quisermos ser salvos, renunciemos à nossa vontade própria, e entregando-a sem reserva a Deus, digamos freqüentes vezes cada dia: Senhor, ensinai-me a cumprir a vossa vontade santíssima; protesto não querer senão o que quereis Vós. Para que estejamos sempre dispostos a cumprir a vontade divina, é utilíssimo que desde de manhã nos representemos as contrariedades que nos possam suceder durante o dia.

I. O que faz a vontade de Deus, entrará no céu; o que não a faz, nele não entrará. Alguns fazem depender a sua salvação de certas devoções, de certas obras exteriores de piedade, e entretanto não cumprem a vontade de Deus. Jesus Cristo, porém, diz: “Não todos aqueles que me dizem: Senhor, Senhor, entrarão no reino dos céus; mas entrará somente o que faz a vontade de meu Pai” — Qui facit voluntatem Patris mei, qui in coelis est, intrabit in regnum coelorum.
 
Portanto, se nos quisermos salvar e chegar à união perfeita com Deus, habituemo-nos a rogar-lhe sempre com Davi: Doce me, domine, facere voluntatem tuam (1) — “Senhor, ensinai-nos a fazer a vossa santa vontade.” Ao mesmo tempo desfaçamo-nos da vontade própria e entreguemo-la toda inteira e sem reserva a Deus. — Quando damos a Deus os nossos bens pela esmola, o alimento pelo jejum, o sangue pela disciplina, damos-lhe a nossa própria pessoa. Eis porque o sacrifício da vontade própria é o sacrifício mais aceito que possamos fazer a Deus; e Deus enriquece de graças ao que o faz.

Porém, para que tal sacrifício seja perfeito, deve ter duas qualidades: deve ser feito sem reserva e constantemente. Alguns dão a Deus a sua vontade, mas com reserva, e semelhante dádiva pouco agrada a Deus. Outros dão a Deus a sua vontade, mas logo em seguida tornam a retomá-la, e estes se expõem a grande risco de serem abandonados de Deus. Por isso, todos os nossos esforços, desejos e orações devem ser dirigidos ao fim de obtermos de Deus a perseverança em não querermos senão o que Deus quer. Habituemo-nos a antever desde de manhã, no tempo da meditação, as tribulações que nos possam suceder no correr do dia e a fazermos continuamente atos de resignação à vontade Divina. Diz São Gregório: Minus iacula feriunt, quae praevidentur — “São menos dolorosas as feridas antevistas”.

II. Meu Jesus, cada vez que eu disser: Louvado seja Deus, ou Seja feita a vontade de Deus, tenho intenção de aceitar todas as vossas disposições a meu respeito, no tempo e na eternidade. — Só quero o emprego, a habitação, os vestuários, o nutrimento, a saúde que me tendes destinado. Se quereis que meus negócios não surtam feliz êxito, meus projetos se esvaeçam, meus processos se percam, tudo quanto possuo seja roubado, eu também o quero. Se quereis que eu seja desprezado, odiado, posposto aos outros, difamado e maltratado, até por aqueles a quem mais amo, eu também o quero. Se quereis que eu fique privado de tudo, banido de minha pátria, encerrado numa prisão e viva em penas e angústias contínuas, eu também o quero. Se quereis que esteja sempre enfermo, coberto de chagas, estropiado, estendido sobre um leito, abandonado de todos, eu também o quero; tudo seja como Vos agradar e por quanto tempo quiserdes.

Minha vida mesma ponho nas vossas mãos e aceito a morte que me destinais; aceito igualmente a morte de meus parentes e amigos e tudo o que quiserdes. Quero também tudo o que quereis no que diz respeito ao meu bem espiritual. Desejo Vos amar com todas as minhas forças nesta vida e ir Vos amar no paraíso como Vos amam os Serafins; mas contente fico com o que bem quiserdes conceder-me. Se não quereis dar-me senão um só grau de amor, graça e glória, não quero mais do que isto, porque Vós assim o quereis. Prefiro o cumprimento de vossa vontade a todos os bens.

Numa palavra, ó meu Deus, de mim e de tudo o que me pertence, disponde como for vossa vontade; com a minha não tenhais consideração alguma, pois só quero o que Vós quereis. Qualquer que seja o tratamento que me deis, amargo ou doce, agradável ou penoso, aceito-o e abraço-o, porque tanto um como outro me virá de vossa mão. — Aceito, meu Jesus, de maneira especial a morte que me espera e todas as penas que devem acompanhá-la, no lugar e momento que for vossa vontade. Unindo-as à vossa santa morte, ó meu Salvador, Vo-las ofereço em testemunho de meu amor a Vós. Quero morrer para Vos agradar e cumprir vossa divina vontade. — Ó Maria, Mãe de Deus, obtende-me a santa perseverança. (*II 279.).
 
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1. Ps. 142, 10.


(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 215 - 217.)