Assoc. Fronteira Católica: abril 2012

sexta-feira, 27 de abril de 2012

O verdadeiro Católico e o herege

Extraído da obra Commonitorium de São Vicente de Lérins, abade do século V.

 De tudo que temos dito, parece evidente que o verdadeiro e autêntico católico é o que ama a verdade de Deus e a Igreja, corpo de Cristo; aquele que não antepõe nada à religião divina e à fé católica: nem a autoridade de um homem, nem o amor, nem o gênio, nem a eloqüência, nem a filosofia; mas que depreciando todas estas coisas e permanecendo solidamente firme na fé, está disposto a admitir e a crer somente o que a Igreja sempre e universalmente tem crido. Sabe que toda doutrina nova e nunca antes ouvida, insinuada por uma só pessoa, fora ou contra a doutrina comum dos fiéis, não tem nada a ver com a religião, mas que melhor constitui uma tentação, doutrinado nisto especialmente pelas palavras do Apóstolo Paulo: "É necessário que entre vós haja partidos para que possam manifestar-se os que são realmente virtuosos." (ICor XI,19) Como se dissesse: Deus não elimina imediatamente aos autores de heresias, para que se manifestem os que são de uma virtude provada, ou seja, para que apareça em que medida cada um é tenaz, fiel, constante e nele mora a fé católica. 

E verdadeiramente, apenas um vento de novidades começa a soprar, imediatamente se vê como os grãos coalhados de trigo se separam e se distinguem da casca sem peso, e sem grande esforço é arrancado fora de lá o que não é sustentado por peso algum. Alguns voltam imediatamente; outros, no entanto, transtornados e desalentados, temem perecer, mas se envergonham de regressar, espancados como estão e mais mortos que vivos; parece exatamente como se tivessem bebido uma dose de veneno que já não podem eliminar e que, ainda que não lhes mate logo, não lhes permite seguir realmente vivendo. Situação desgraçada! Quantas violentas aflições, quantas perturbações lhes assaltam! Já se deixam levar pelo erro como um vento impetuoso; já se recolhem em si mesmos, como ondas na tempestade, e são lançados na praia; outras vezes, com audácia temerária, dão sua conformidade ao que é errado; em outros momentos, sob o impulso de um medo irracional, se espantam até do que é verdade. Não sabem mais aonde ir, aonde voltar, não sabem o que querem, não sabem do que devem fugir, não sabem o que deve ser mantido e o que, ao contrário, deve ser rechaçado. E se ao menos soubessem que estas dúvidas e esta angústia de um coração vacilante são o remédio que a misericórdia divina lhes preparou! Por isto precisamente, afastados do porto seguro da fé católica, são sacudidos, golpeados, como imersos na tempestade, para que, recolhidas e amainadas as velas da mente, que estavam estendidas ao largo e desdobradas aos ventos infiéis das novidades, voltem a buscar morada no refúgio confiado de sua Mãe boa e tranqüila e, rechaçadas as ondas amargas e alvoroçadas do erro, possam alcançar a fonte de águas vivas e saltitantes e beber dela. Que "desaprendam" bem o que não fizeram bem em aprender; e que compreendam, de todos os dogmas da Igreja, o que a inteligência pode compreender; o que não podem compreender, que creiam.

terça-feira, 24 de abril de 2012

Pedido de orações

Caros amigos e leitores,
Salve Maria!

O Grupo Dom Bosco pede orações, para que Deus, pela intercessão de S. Miguel e S. Jorge, possa cuidar da segurança de nosso pároco Pe. Aldo Dal Pozzo, na Vila C em Foz do Iguaçu.


No último sábado (21), dois integrantes do Grupo Dom Bosco estavam presentes na casa do Padre, na Paróquia Ns. Senhora da Luz, dedicados ao ensaio de nossa primeira Missa Tridentina, quando foram rendidos por dois bandidos armados por cerca de 10 minutos.

Além de roubarem pertences dos rapazes e dinheiro da Paróquia, os bandidos agrediram e ameaçaram de morte os rapazes e o Padre.

Este sacerdote vem sofrendo sérios riscos de segurança em sua casa. Já houve uma nova tentativa de arrombamento após este crime de sábado.

Contamos com vossas orações!

In Iesu et Maria,

André Renato Rinaldi
Coordenador geral do Grupo Dom Bosco

domingo, 15 de abril de 2012

Ladainha da Humildade

De autoria do Card. Merry Del Val, Secretário de Estado da Santa Sé, durante o Pontificado do Papa S. Pio X
Ó Jesus, manso e humilde de coração, ouvi-me.
Do desejo de ser estimado, livrai-me, ó Jesus.
Do desejo de ser amado, livrai-me, ó Jesus.
Do desejo de ser conhecido, livrai-me, ó Jesus.
Do desejo de ser honrado, livrai-me, ó Jesus.
Do desejo de ser louvado, livrai-me, ó Jesus.
Do desejo de ser preferido, livrai-me, ó Jesus.
Do desejo de ser consultado, livrai-me, ó Jesus.
Do desejo de ser aprovado, livrai-me, ó Jesus.

Do receio de ser humilhado, livrai-me, ó Jesus.
Do receio de ser objeto de suspeita, livrai-me, ó Jesus.
Que os outros sejam amados mais do que eu, Jesus, dai-me a graça de desejá-lo.
Do receio de ser desprezado, livrai-me, ó Jesus.
Do receio de sofrer repulsas, livrai-me, ó Jesus.
Do receio de ser caluniado, livrai-me, ó Jesus.
Do receio de ser esquecido, livrai-me, ó Jesus.
Do receio de ser ridicularizado, livrai-me, ó Jesus.
Do receio de ser infamado, livrai-me, ó Jesus.
Que os outros sejam estimados mais do que eu, Jesus, dai-me a graça de desejá-lo.
Que os outros possam elevar-se na opinião do mundo, e que eu possa ser diminuído, Jesus, dai-me a graça de desejá-lo.
Que os outros possam ser escolhidos e eu posto de lado, Jesus, dai-me a graça de desejá-lo.
Que os outros possam ser louvados e eu desprezado, Jesus, dai-me a graça de desejá-lo.
Que os outros possam ser preferidos a mim em todas as coisas, Jesus, dai-me a graça de desejá-lo.
Que os outros possam ser mais santos do que eu, embora me torne o mais santo quanto me for possível, Jesus, dai-me a graça de desejá-lo. 
Amém.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Transigir, não! Reagir!

É de transigência o momento que atravessamos: transigências que abaixam os caráteres, fazem descer o nível dos costumes e arrastam a sociedade a todas as acomodações e por elas, a todos os crimes.

Transige-se por falta de convicções arraigadas; transige-se com a Fé, transige-se com a moral e se formam aos poucos consciências frouxas, embotadas, sem delicadeza, sem escrúpulos; consciências relaxadas e errôneas, que mascaram suas vergonhosas acomodações sob o pretexto pomposo e moderno de... 'largueza de vistas!' E essa transigência é uma covardia. Por falta de coragem segura que nos traça o nosso título de Cristãos e de Filhos de Maria, em vez de levantarmos o ambiente à altura de nossos ideais norteados por uma Fé esclarecida, nos abaixamos a seguir humildemente e sem escrúpulos os preconceitos da era pagã que atravessamos. Porque não há dizer, é de paganismo requintado o espírito do século em que vivemos: são pagãos os seus princípios e preconceitos; pagão os seus ritos em que a forma prevalece sobre o fundo, em que a beleza serve de capa a todos os requintes do sensualismo.

É pagã a literatura em voga; pagãos os espetáculos que freqüentamos; ultra pagãos as danças e as modas; pagão e arquipagão a deificação do prazer que é o característico dos nossos dias.

"Um vento de loucura sopra sobre o mundo; procuram-se com frenesi distrações e prazeres; gasta-se desmedidamente sem cuidar do dia seguinte; aproveitam-se lucros imorais, que reduzem os pobres à fome sem restaurar a fortuna pública; os salários dos operários atingem proporções fantásticas e as dificuldades aumentam com os salários.
Esta sociedade que a fome espreita, perde o gosto do trabalho; ela se diverte. Fala-se de onda de preguiça. A guerra desencadeou sobre o país (leia-se sobre o mundo) uma onda de corrupção".

"O amor do prazer e do dinheiro, escreveu a propósito um jesuíta francês, desequilibrou as consciências que perderam o senso do justo e do honesto, o discernimento do bem e do mal. O magnífico impulso que nos primeiros anos da guerra levava as massas à Igreja, se moderou progressivamente para se tornar, no dia da vitória, em mais de um lugar, a deserção. Agravou-se ainda, por aí, a crise moral: diminuindo a pratica religiosa, a Fé teve sobre a vida menos ação e conseqüentemente, seguindo sua inclinação natural, a multidão, em massa, amontoou-se nos lugares de diversões, sem nenhum escrúpulo na escolha dos prazeres que uma reclame sem pudor lhe oferecia em todos os cantos.
“A sombra de nossas Igrejas e de nossas Catedrais as multidões apinhadas nos espetáculos baixamente imorais ou turbilhonando em danças libertinas, faziam pensar em Cristãos perjuros, de volta ao culto das divindades que a Cruz derroca.”

 

“Infelizmente, o espetáculo que nos oferece a sociedade é a demonstração desta afirmação; perdeu-se o senso do justo e do honesto, o discernimento do bem e do mal.”
Era esta a observação que me fazia de mim para mim, ao ler e ao ouvir comentários sobre a estação da companhia dramática francesa que se acaba de encerrar no nosso Teatro Municipal. O repertório, com raras exceções, não era moral e algumas peças deviam repugnar, não só a alma que se presume pura e fresca de uma donzela cristã, senão a qualquer pessoa de mais elementar delicadeza. Pois bem, perdeu-se de tal modo a compreensão do honesto que, contanto que sejam revestidas de um fraseado elegante, ditas com donaire e com chiste, todas as imoralidades são toleradas e aplaudidas na cena do principal teatro da nossa Capital.

Mais triste, porém, ainda é um fato que denota quanto a sociedade está solapada em seus alicerces pelo cancro da dissolução dos costumes; o expoente dessa dissolução, o sinal mais característico desse estado de coisas é o desprendimento criminoso com que os pais arriscam suas filhas, mocinhas de dezoito a vinte anos, a ir e ouvir e ver o desenrolar de cenas de peças que não conhecem, mas que o simples nome do autor oferece uma certeza prévia de que não podem ser convenientes...

Tanto mais quando algumas, pelos títulos, verdadeiros chamarizes para despertar uma curiosidade má, nem aos ingênuos reservam a menor surpresa. Se não é um sinal característico de dissolução de costumes esse desprendimento das mães pelo recato de suas filhas, o tesouro que elas deveriam cercar da maior auréola, eu não vejo nenhum que se lhe possa comparar.

E as nossas mocinhas, loucas borboletas que já nas telas dos cinemas se habituaram a ver, antes do tempo, o espetáculo de todas as misérias morais e de todas as realidades prosaicas da vida, sob pretexto de que nada lhes faz mal; essas mocinhas vão a pouco e pouco perdendo o senso do justo e do honesto e afazendo sua mentalidade a todos os espetáculos prejudiciais, amorais e imorais, de sorte que quando na vida se encontram com fatos idênticos já não lhes repugnam e adotam muitas vezes as soluções errôneas que viram nos filmes em que a última preocupação é justamente a moral.

Sim, hoje tudo depende da moda: à ela, esta deusa onipotente, se subordinam os ditames da própria consciência, afim de conciliar coisas entre si inteiramente inconciliáveis, como o espírito de Deus e o espírito do mundo, aquele mundo pelo qual Nosso Senhor Jesus Cristo não orava.

Se é elegante freqüentar esta ou aquela Igreja, ouvir este ou aquele pregador, fazer parte desta ou daquela obra religiosa ou social, despendem-se todas as energias, fazem-se todos os sacrifícios para merecer a fama e a adjetivação que os jornais em suas seções mundanas tão prodigamente distribuem.

 

Ao lado disso, e com igual empenho se respeitam os ditames das modas mais excêntricas e mais pagãs, no trajar, nas relações, nos espetáculos, nas leituras, nas danças, na mentalidade, enfim, que se vasa sobre o espírito da época muito mais do que no espírito do Evangelho.

Assim é que essas cristãs que servem dois senhores, à custa de transigências e de acomodações pouco sinceras e covardes, vão perdendo progressivamente a noção do reto e do justo, e personificando a Fé que não age, que não orienta a vida, a Fé morta, de que fala S. Agostinho: outros tantos monumentos em ruínas que só conservam alguns palmos de fachada, essa mesma já carcomida pelos destroços de um cataclisma... Verdadeiras pedras de escândalo para os indiferentes e os ignorantes em matéria religiosa, que pensam encontrar numa alma que se diz cristã a encarnação da doutrina que abraça, do credo a que se orgulha de pertencer.

Porque entretanto, essa contradição entre as práticas e as mentalidades pagãs das nossas moças, para as quais o fim da vida parece ser gozar? Porque essas transigências covardes, essas acomodações que fazem das nossas cristãs - para que não dizê-lo? - de algumas Filhas de Maria verdadeiros joguetes da moral e dos mais abtrusos preconceitos mundanos?
Infelizmente, já tivemos ensejo de o dizer, é uma falta de sinceridade ou de instrução religiosa - em uma palavra: falta de convicções. É falta de saber arcar com as responsabilidades que devem decorrer dos princípios diretores de nossa vida; por isso, tudo hoje é fictício e mentiroso, tudo é emprestado: desde as cores do rosto, dos ademanes copiados dos artistas do cinema, das mentalidades hauridas nos romances do dia, até... supremo absurdo! a consciência que se adelgaça ou se contraí, em suma, se dobra às exigências dos preconceitos da época.

Ora, proceder assim é ser mundano, é estar no tom da sociedade pagã que é a dos nossos dias, mas não é estar no diapasão da lei do Evangelho, que por ser perfeita é imutável e sempre desabrochou em flores de virtude e de santidade, até nas eras mais corrompidas.

A consciência reta não se acomoda e não transige com o mal; mais ao invés, reage, ainda que seja esmagada na sua ânsia de defender os direitos de Deus e da virtude.
Daí, vem que os justos sofrem perseguição pela justiça.

Mas, é tão belo ter o ardor do bem e realizá-lo, mesmo à força de sofrimentos e de heroísmo!

Sta. Teresinha do Menino Jesus
 O nosso papel de Cristãs, não é, pois, aceitar passivamente a situação de transigência tão cômoda para as almas infiéis que se recusam à luta. É sofrer, se for preciso, mas olhar para o Céu e negar o concurso da nossa ação a tudo quanto pode repugnar à uma consciência esclarecida e reta.

 

É preciso não aceitar fatos consumados e remando contra a maré, embora ter como norma estas palavras que denotam uma alma desassombrada e independente: Transigir, não; reagir!


S. de F.
Texto publicado no periódico "Apostolado das Filhas de Maria no Brasil" e divulgado por folhetinhos "Bôa Leitura para as Filhas de Maria", distribuído como lembrança do Mês do Rosário de 1922 com Imprimatur do então Arcebispo de S. Paulo, Dom Duarte.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

A Virgem Maria fala ao coração das moças

Tu sabes, minha filha, para que fim te criou Deus? E se o sabes, como tens podido desviar-te dele tão estranhamente? Certamente te não foi dado esse corpo com sua sensibilidade, seus dons de graça e de beleza, para fazeres dele um instrumento de escândalo e de pecado. Da mesma sorte te não foi dada esta alma, com suas nobres faculdades, inteligência, memória e vontade para estudar as vaidades do século, para conceberes imagens impudicas ou frívolas, para procurares o teu bem nas criaturas em lugar de o procurares no Criador. Ah! que culpável abuso tens feito até ao presente dos benefícios do céu! Tu bem sabes, minha querida filha, para que fim Deus te criou. É para o conheceres, amares, e servires nesta vida, e por esse meio adquerires a glória eterna que te preparou na eternidade. Poderias acaso desejar fim mais nobre e sublime? Poderia Ele, não obstante a sua omnipotência, dar-t'o melhor? Não o tem os principes mais graduados e gloriosos da corte celeste; não o tenho eu mesma. Mas de que modo tens tu correspondido à bondade de Deus? Ah! se queres que eu seja para ti uma verdadeira Mãe, mostra-te para mim uma verdadeira filha: não degeneres dos meus exemplos. Desde o primeiro instante que a minha inteligência se abriu à razão, dediquei-me logo a Deus com a veemência de um coração ardente, e a chama feliz, que neste momento m'o abrasa, não mais se extinguiu. Desde então, o meu pensamento foi fazer a vontade de Deus e tornar-me cada vez mais digna d'Ele. Mas tu, que tens feito? Ah! o teu primeiro desejo foi agradar o mundo, a tua aplicação foi seguir-lhe as máximas e costumes. Não tens conhecido Deus senão para o ofender. Gastaste a infância, que é a mais bela idade, - a idade da inocência - em puerilidades, em preocupações que fazem corar, em desobediências a teus superiores, em desprezo por teus inferiores e iguais. Tens-te deleitado desde então com as modas e vaidades. Tens as seguido sem compreender bem o mal que te acarretam. Fizeste delas um ídolo para conseguires ser tu própria um ídolo dos outros corações. Não sentes confusão alguma à vista de uma vida tão indigna de uma virgem cristã? Não te aflige teres-te desviado tão tristemente do fim para que foste criada? 

Que engano é o teu, ó querida filha, se crês achar no mundo a felicidade que sonhas, mesmo quando tudo corresse conforme os teus desejos, as riquezas e grandezas do mundo não podem fazer-te feliz. O teu coração, apto a gozar um bem imutável e infinito, coração criado para um igual bem, nunca poderá estar satisfeito gozando apenas felicidades limitadas e passageiras.

Deixa-te convencer pelo exemplo de tantas pessoas que no mundo vivem no meio de delícias e riquezas. Julga-las felizes, mas se pudesses penetrar com a vista em seus corações e ver a tempestade terrível de aflições, de temores e remorsos que incessantemente lhes agita e tortura a consciência, em vez de lhes invejares a sorte terias piedade de sua desgraça. Quantas têm achado a ruína no meio do mesmo que devia ser-lhes glória! Não, minha filha, o ímpio não pode ter paz verdadeira, nem sincero contentamento. Só uma alma reta e inocente goza na paz do coração as delícias antecipadas do Paraíso. Nenhuma catastrofe as pertuba. Os pecadores, ao contrário, conforto algum podem tirar das consolações terrestres. Não te assuste portanto a penitência, ó milha querida filha, porque só de terrível tem o nome. Acredita-me: as lágrimas daquele que na amargura do seu coração chora as próprias culpas, são mais suaves que a alegria daquele que se inebria com os prazeres da vida. Criada por Deus e para Deus, só n'Ele acharás a paz. Desgraçada da alma que ousa crer que se pode achar coisa alguma melhor que Deus. Cessa pois de armas a vaidade e a mentira e volta-te para aquele que é o único que pode dar-te a paz e fazer a tua verdadeira felicidade.

Demais, ó minha querida, o tempo nada é comparado com a eternidade. Tens de viver eternamente numa alegria soberana, ou na mais terrível dor. Devez habitar para sempre o Paraíso ou o Inferno. Qual será a tua eternidade? Interroga a consciência e ela te responderá. Crês que a moleza em que vives, a dissipação, o afã pelas festas e divertimentos, o desejo de te mostrares, de amar e ser amada, o habito de rir e acompanhar livremente com pessoas das quais até devias evitar o encontro com cuidado, são o caminho que conduz ao céu? Ah! minha filha, eu própria me impuz o dever de proteger a minha inocência por meio do retiro, da modéstia e de uma oração contínua, pela prática de todas as virtudes que devem servir de norma à vida de uma verdadeira serva do Senhor, e tu crer-te-ias segura vivendo no meio de tantos perigos, com tão pouca vigilância e tamanho horror ao sofrimento? Meu próprio Divino Filho subiu ao céu pelo caminho da Cruz, e tu querias persuadir-te que só pode ali chegar pelo caminho dos prazeres?! De que te servirá ter gozado todas as delícias do mundo se te perdes e precipitas num fim de dor eterna para que não foste criada? De que te servirás teres nascido no seio da Igreja, teres sido remida pelo sangue precioso de meu Filho, alimentada por sacramentos divinos, inscrita no livro do filho de Deus, pertenceres à uma nação Cristã, a um povo de eleição, se acabas por te condenar como aqueles que nunca conheceram nem Deus, nem o seu Cristo?

Affectos. Como vossas palavras fortificam meu coração e me esclarecem o espiríto, ó Maria, minha Mãe amabilíssima! Ah! agora conheço quanto tenho andado mal até ao presente e o dever que me obriga a dar-lhe um pronto remédio se não quiser perder o fim para que fui criada. Oh! como as minhas passadas loucuras me confundem! Quanto era insensata em renunciar a Deus e à sua Glória por um bem passageiro e uma vã felicidade! Que desgraçada eu era! Não tinha Deus em conta alguma; só seguia as minhas vontades desregradas e os absurdos caprichos do mundo. Que devo eu esperar senão que Deus me não avalie em nada e me confunde com os seus inimigos? Mas é tempo ainda; vou pois apressar-me, sem perder um momento, e emendar o meu erro. Detesto e aborreço todos os prazeres, encantos, festas e vaidades que tem sido ou serão para mim uma ocasião de ofender o meu Deus. Renuncio de novo a eles, como já tinha renunciado em meu Batismo; em lugar de os procurar, pisa-los-ei aos pés sem medo e valorosamente. Chorarei incessantemente o meu erro. Não pensarei se não em agradar a Deus sem me importar com o que dirá o mundo, servi-lo-hei e amarei de todo o coração para conseguir o meu fim. Valei-me, ó Mãe amabilíssima. Sob a vossa poderosíssima proteção, estou certa de obter o perdão que imploro e de praticar tudo o que tenho resolvido.

Da obra 'Maria Falando ao Coração das Donzelas', traduzido do italiano pelo Abbade A. Bayle.
Livraria Católica Portuense, Porto, 1917.