Assoc. Fronteira Católica: Dom Bosco e os protestantes

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Dom Bosco e os protestantes

No mês de Março do ano de 1853 principiamos a publicação periódica das Leituras Católicas.
Desde 1847, quando teve lugar a emancipação dos judeus e dos protestantes, se tornava indispensável esse antídoto para benefício dos fiéis cristãos em geral, e especialmente da juventude.
Com aquela emancipação, o Governo entendia somente dar liberdade a todos os credos, mas não com detrimento do Catolicismo.
Mas os protestantes não o entenderam assim, e começaram a fazer propaganda anticatólica com todos os recursos de que dispunham.
Procuravam obter prosélitos por meio de três diários (A Boa Nova, A Luz Evangélica, Il Rogantino Piemontese), de muitos livros bíblicos e não bíblicos; e oferecendo dinheiro, empregos, roupas e alimentos a quem ia às suas escolas ou freqüentava suas conferências ou seu templo.
O Governo sabia disso tudo e não se importava, e com seu silêncio os favorecia eficazmente. Acrescente-se que os protestantes estava preparados e dotados de todos os meios materiais e propagandísticos, enquanto que os católicos, confiados nas leis civis, que até então os tinham protegido e defendido, se possuíam algum diário ou alguma obra clássica de erudição, não dispunham de um único jornal ou livro adequado para ser posto ao alcance do povo.
Naquelas circunstâncias, para atender à necessidade, comecei a compor alguns quadros sinópticos sobre a Igreja Católica; e depois algumas oitavas intituladas Lembranças para os Católicos, que se espalhavam entre os jovens e adultos, especialmente durante os exercícios espirituais e as missões.
Tais livretos foram acolhidos com grande avidez, e em pouco tempo se distribuíram muitos milhares deles. Isso me persuadiu da necessidade de um meio popular para facilitar o conhecimento dos princípios fundamentais do catecismo.
Em conseqüência, mandei reimprimir um folheto intitulado Avisos aos Católicos, que tinha a finalidade de alertar os católicos para não se deixarem colher na rede dos hereges.
A venda foi extraordinária; em dois anos se difundiram mais de 200.000 exemplares, o que agradou os bons, mas enfureceu os protestantes, que se julgavam os únicos donos da seara evangélica.
Pareceu-me então que era urgente preparar e publicar livros para o povo, e projetei as assim chamadas Leituras Católicas.
Preparados alguns opúsculos, quis publicá-los logo, mas surgiu uma dificuldade não prevista: nenhum bispo queria se pôr à testa da publicação.
Varcelli, Biella e Casale se recusaram, dizendo que era perigoso lançar-se em luta contra os protestantes. O Arcebispo Mons. Fransoni, na ocasião residente em Lyon, aprovava e recomendava, mas ninguém queria assumir nem sequer a censura eclesiástica.
O Cônego Zappata, vigário geral, foi o único que a pedido do Arcebispo reviu meio opúsculo, mas depois devolveu o manuscrito dizendo: "Aí vai o seu trabalho; não quero me responsabilizar; os casos de Ximenes e de Palma são muito recentes. O sr. desafia e ataca o inimigo de frente, mas eu prefiro me bater em retirada enquanto há tempo.
De acordo com o vigário geral, expus tudo ao Arcebispo, que me respondeu com uma carta que devia ser apresentada a Mons. Moreno, bispo de Ivrea. Nela rogava àquele prelado que aceitasse sob sua proteção a publicação do projeto, assistindo-a com a sua censura e autoridade.
Mons. Moreno se prestou de bom grado; encarregou o advogado Pinoli, seu vigário geral, de fazer o exame do texto, calando, sem embargo, o nome do censor. Em seguida se redigiu um programa, e a 1º de março de 1853 saiu o primeiro fascículo intitulado O Católico Instruído.
As Leituras Católicas foram acolhidas com aplauso geral, sendo extraordinária o número de leitores; mas logo começaram as iras dos protestantes.
Tentaram combatê-las com seus periódicos e com suas "Leituras Evangélicas", mas não encontraram leitores. Então dirigiram todo o tipo de ataques contra o pobre Dom Bosco.
Ora uns, ora outros, vinham discutir comigo, convencidos, como diziam, de que ninguém podia resistir a seus argumentos, já que os padres católicos eram muito ignorantes e seriam rapidamente confundidos.
Assim, pois, eles vinham me atacar; algumas vezes era um só, outras vezes eram dois, ou até vários juntos. Sempre os rebati, e quando não sabia responder às objeções que eu lhes fazia, recomendava que fossem consultar seus ministros e depois me fizessem o favor de trazer a resposta...
Vieram discutir comigo Amadeu Bert, depois Meille, o evangélico Pugno, e outros e mais outros; mas não puderam conseguir que eu parasse de pregar ou de imprimir as nossas Leituras - o que aumentou ainda mais sua raiva...
Um domingo à tarde, no mês de Janeiro de 1854, anunciaram-me a visita de dois senhores que desejavam falar comigo. Entraram, e depois de uma larga série de salamaleques e rapapés, um deles começou a me dizer:
- O Sr. é um teólogo que recebeu da natureza um grande dom, o de se fazer entender e ler pelo povo; por isso lhe pedimos que empregue esse precioso dom em coisas úteis à humanidade, como favorecer a ciência, as artes, o comércio...
- É precisamente isso que procuro fazer nas Leituras Católicas, às quais me dedico por inteiro.
- Seria preferível que se ocupasse de outros bons livros para a juventude, como por exemplo uma história da antigüidade, um tratado de geografia, de física ou de geometria... mas não das Leituras Católicas.
- E por que não delas?
- Porque é um trabalho que muitos já fizeram e refizeram.
- Esse trabalho, é verdade que muitos o fizeram, mas em livros eruditos, não para o povo, como é precisamente o meu objetivo com as Leituras Católicas.
- Mas esse trabalho não lhe dá nenhum fruto; pelo contrário, se o Sr. fizer o que nós lhe recomendamos, conseguirá também ajuda material para a prodigiosa instituição que a Providência lhe confiou. Tome, aqui tem algo (e foram me estendendo quatro notas de mil francos); este é apenas um primeiro donativo, receberá outros ainda maiores.
- Por que me oferecem tanto dinheiro? 
- Para animá-lo a empreender as obras sugeridas e para ajudar sua instituição, digna de todos os louvores.
- Perdoem, senhores, mas podem ficar com seu dinheiro. Por ora não posso dedicar-me a outros trabalhos científicos, mas só às Leituras Católicas.
- Mas é um trabalho inútil...
- Se é um trabalho inútil, por que se preocupam com ele? Por que me oferecem dinheiro para me fazer desistir dele?
- O Sr. não está pensando bem no que faz, pois se rejeita isto, prejudica sua própria obra, expõe-se a certas conseqüências, a certos perigos...
- Senhores, entendo muito bem o que me querem dizer; mas lhes advirto com toda a clareza que diante da verdade não tenho medo de ninguém; quando me ordenei sacerdote, consagrei-me ao bem da Igreja e da pobre humanidade; entendo que devo continuar promovendo com minhas débeis forças as Leituras Católicas.
- O Sr. faz muito mal, replicaram com a voz e o rosto alterados, enquanto se iam levantando, o Sr. nos está insultando; ademais, quem sabe o que será do Sr. aqui mesmo?
E, em tom de ameaça, acrescentaram:
- Se sair de casa, está seguro de que voltará?
- O srs. não conhecem os sacerdotes católicos. Enquanto vivem, trabalham para cumprir o seu dever; e se em meio ao trabalho tiverem que morrer, será para eles a maior felicidades, a glória suprema.
Naquele momento estavam os dois tão irritados que eu receei me agredissem. Levantei-me, e colocando uma cadeira entre nós disse:
- Não temo suas ameaças. Se eu quisesse usar a força, pouco me custaria; mas a força do sacerdote está na paciência e no perdão. Portanto, saiam já daqui!
Girando em torno da cadeira, abri a porta do quarto e disse:
- Buzzetti, acompanha esses senhores até a porta, porque não conhecem bem a escada.
Ficaram confusos diante daquela intimação, e saíram com o rosto e os olhos inflamados de raiva dizendo: "Nos veremos em hora mais oportuna". 

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