Assoc. Fronteira Católica: Meditação da Paixão de Nosso Senhor

sexta-feira, 29 de março de 2013

Meditação da Paixão de Nosso Senhor


Jesus cravado à Cruz

Assim que o Senhor foi despido, deitaram-no sobre a cruz preparada e estendida sobre o chão. Não foi difícil fazer cair esse corpo titubeante e sem forças. Esse divino Salvador, aliás, que ardia de amor pelos homens e, portanto, pela cruz, o instrumento da salvação deles, deixou-se estender voluntariamente e sem resistência sobre essa cruz que ele mesmo desejava ardentemente e via como o leito nupcial onde desposaria a Igreja em geral, e em particular todas as almas fiéis, que devia amar como se fossem esposas.

Via Crucis de Lourdes, França
Mas, meu Deus, que leito nupcial para um esposo tão belo, tão nobre, tão augusto e tão santo! Que rigor, que dureza! Mas que coragem para sofrer por nosso amor e que condenação de nossa moleza e covardia! Ah! Senhor! Esse não é um leito de delícias e coberto de flores como merecíeis e como o pinta o esposo dos sagrados cânticos, mas um leito de dor e um leito cruel, porque devíeis ser um esposo de sangue e nos ensinar que são sangrentas as estradas que nos levam aos céus.

Deitado sobre a cruz, estende a mão direita com bondade e a dá ao carrasco que devia perfurá-la; mão todo-poderosa, que poderia derrubar e fulminar todos os adversários; mão benévola e divina, à qual deviam, ao contrário, dar mil respeitosos beijos como homenagem e para atrair graças e bênçãos. Toma desumano o carrasco essa mão sagrada; fura-a cruelmente com vários golpes; faz a carne entrar com o prego na madeira da cruz. Tomam-lhe a outra mão, puxam-na com violência para fazê-la corresponder ao buraco preparado, provocando uma tensão cruel e dolorosa; perfuram-na, enfim e a cravam como a outra.

Assim é, Senhor, que suportais que tratem as vossas mãos, origem de tantos prodígios. Foram as suas mãos, dizia o profeta, que criaram o céu e a terra; foram as vossas mãos que me formaram; de  vossas mãos os judeus acabavam de receber tantos favores; mãos que haviam tocado os olhos do cego e o haviam curado na presença de tanta gente. Essas mãos adoráveis são agora perfuradas e estendidas sobre a cruz, que abraçais carinhosamente, como uma esposa entre os braços da qual quereis morrer para me dar a vida.

Para prender com mais força esse divino Salvador à cruz, furam os dois pés com a mesma crueldade, e deles sai sangue em abundância, assim como das mãos. Esses pés tão belos, diz um profeta, que nos trouxeram a paz; esses pés que Madalena penitente regara com suas lágrimas na casa do fariseu; esses pés que tanto caminharam para ir curar os doentes mais sem esperança, para ir buscar os pecadores mais endurecidos e para ir ressuscitar os mortos, estão agora sem movimento, pregados a uma cruz infame, e sofrem uma dor infinita por meu amor.

Ah! Senhor, recorro a essas mãos e a esses pés: reconheço na fraqueza deles a omnipotência; e peço-vos que essas mãos dolorosas concedam às minhas mãos obras de penitência, e esses pés conduzam meus passos nas trilhas da justiça.

Meditação do Pe. franciscano Jean-Baptiste-Élie Avrillon (1652-1729) sobre a crucifixão de Cristo, para a segunda-feira da Paixão. Avrillon foi um dos mais populares escritores católicos franceses do século XVIII.

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