Jesus cravado à Cruz
Assim que o Senhor foi despido, deitaram-no sobre a cruz preparada e estendida sobre o chão. Não foi difícil fazer cair esse corpo titubeante e sem forças. Esse divino Salvador, aliás, que ardia de amor pelos homens e, portanto, pela cruz, o instrumento da salvação deles, deixou-se estender voluntariamente e sem resistência sobre essa cruz que ele mesmo desejava ardentemente e via como o leito nupcial onde desposaria a Igreja em geral, e em particular todas as almas fiéis, que devia amar como se fossem esposas.
Via Crucis de Lourdes, França |
Mas, meu Deus, que leito nupcial para um esposo tão belo, tão nobre, tão augusto e tão santo! Que rigor, que dureza! Mas que coragem para sofrer por nosso amor e que condenação de nossa moleza e covardia! Ah! Senhor! Esse não é um leito de delícias e coberto de flores como merecíeis e como o pinta o esposo dos sagrados cânticos, mas um leito de dor e um leito cruel, porque devíeis ser um esposo de sangue e nos ensinar que são sangrentas as estradas que nos levam aos céus.
Deitado sobre a cruz, estende a mão direita com bondade e a dá ao carrasco que devia perfurá-la; mão todo-poderosa, que poderia derrubar e fulminar todos os adversários; mão benévola e divina, à qual deviam, ao contrário, dar mil respeitosos beijos como homenagem e para atrair graças e bênçãos. Toma desumano o carrasco essa mão sagrada; fura-a cruelmente com vários golpes; faz a carne entrar com o prego na madeira da cruz. Tomam-lhe a outra mão, puxam-na com violência para fazê-la corresponder ao buraco preparado, provocando uma tensão cruel e dolorosa; perfuram-na, enfim e a cravam como a outra.
Assim é, Senhor, que suportais que tratem as vossas mãos, origem de tantos prodígios. Foram as suas mãos, dizia o profeta, que criaram o céu e a terra; foram as vossas mãos que me formaram; de vossas mãos os judeus acabavam de receber tantos favores; mãos que haviam tocado os olhos do cego e o haviam curado na presença de tanta gente. Essas mãos adoráveis são agora perfuradas e estendidas sobre a cruz, que abraçais carinhosamente, como uma esposa entre os braços da qual quereis morrer para me dar a vida.
Para prender com mais força esse divino Salvador à cruz, furam os dois pés com a mesma crueldade, e deles sai sangue em abundância, assim como das mãos. Esses pés tão belos, diz um profeta, que nos trouxeram a paz; esses pés que Madalena penitente regara com suas lágrimas na casa do fariseu; esses pés que tanto caminharam para ir curar os doentes mais sem esperança, para ir buscar os pecadores mais endurecidos e para ir ressuscitar os mortos, estão agora sem movimento, pregados a uma cruz infame, e sofrem uma dor infinita por meu amor.
Ah! Senhor, recorro a essas mãos e a esses pés: reconheço na fraqueza deles a omnipotência; e peço-vos que essas mãos dolorosas concedam às minhas mãos obras de penitência, e esses pés conduzam meus passos nas trilhas da justiça.
Meditação do Pe. franciscano Jean-Baptiste-Élie Avrillon (1652-1729) sobre a crucifixão de Cristo, para a segunda-feira da Paixão. Avrillon foi um dos mais populares escritores católicos franceses do século XVIII.
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