Assoc. Fronteira Católica: Sermão de Natal - Pe. René Trincado

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Sermão de Natal - Pe. René Trincado


Hoje nasceu o criador do mundo. Hoje o Verbo de Deus apareceu revestido de carne e ele que não era visível para os olhos humanos começou a deixar-se tocar por nossas mãos (São Leão Magno). Hoje os pastores ouviram as vozes do exército celestial, que cantava: Gloria a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade (Lc II, 4).

Paz aos homens: Qual paz cantavam os anjos? A paz que foi obra de Jesus Cristo, porque Ele nos reconciliou com Deus, perdoando nossos pecados (São Cirilo). Mas, “não vim trazer a paz à terra”, disse N. Senhor (Lc XII, 51). A paz que anunciavam os anjos não é para todos, senão somente para “os homens de boa vontade”, para os que recebem bem o nascimento do Senhor, para os justos; para estes homens pedem os anjos a paz (São Beda e Santo Agostinho). Os outros buscam a paz puramente exterior, que serve muitas vezes para o mal e não aproveita de nada aos que a tem (São João Crisóstomo). Os que não são de Cristo porque pertencem ao diabo se concede a paz a fim de gozar do mundo sem moléstias (Santo Agostinho). Os anjos cantam a verdadeira paz, a paz de Cristo, que, como disse Santo Agostinho, é serenidade da mente, tranqüilidade de animo, simplicidade de coração, vinculo de amor e consórcio de caridade, sem que possa chegar à propriedade do Senhor quem não quiser observar o testamento da paz, nem pode estar conforme com Cristo o que não o esteja com o cristianismo. Santa intolerância católica: ou com Cristo ou com o demônio.

E já que estamos falando de paz, convêm fazer alguns esclarecimentos, citando a Suma Teológica de Santo Tomás de Aquino, sobre o sonhador, covarde, injusto e ímpio pacifismo dos liberais. Os modernistas fizeram da paz puramente exterior, tantas vezes oposta à vontade de Deus, um novo fim para a Igreja. Quantas vezes escutamos isso de que a Igreja está ao serviço da paz e que nada há pior que as guerras? E a FSSPX se está desviando até esse mesmo pacifismo liberal, como o prova a tentativa de fazer um acordo traidor de paz com os demolidores da Igreja, com os destruidores da paz de Cristo.

Sem caridade não há verdadeira paz. Santo Tomás ensina que a paz implica uma dupla união: a que resulta da ordem dos desejos em um mesmo, e a que resulta da concórdia dos desejos próprios com os alheios. Tanto uma como outra união é causada pela caridade. Produz a primeira porque Deus é amado com todo o coração, de tal modo que tudo referimos a Ele, e assim todos os nossos desejos convergem no mesmo fim. Produz também a segunda enquanto amamos o próximo como a nós mesmos; por isso quer cumprir o homem a vontade do próximo como a sua (II-II c29 a3).

É bom destruir a paz fundada na má concórdia. Promover a discórdia que rompe a concórdia causada pela caridade é pecado... Mas, provocar a discórdia que destrua a má concórdia, ou seja, a que se apóia em má vontade, é louvável. Nesse sentido foi louvável a dissensão introduzida por São Paulo entre aqueles que estavam concordes no mal (Hc XXIII, 6-7), já que o Senhor disse de Si em Mt X, 34: Não vim trazer a paz, senão a espada (II-II c37 a1).

A resistência legítima não é sedição. Não se pode chamar de sediciosos aqueles que defendem o bem comum resistindo (ao poder injusto), como tampouco se chama briguento a quem se defende (a si mesmo de alguém que ataca). O regime tirânico não é justo... daí que a perturbação desse regime não tem caráter de sedição... O sedicioso é o tirano (II-II c42 a2).

Os que combatem com justiça são pacificadores. Também os que fazem guerra justa querem a paz. Por isso não estão contra ela, a (verdadeira) paz, senão contra a paz má, a que o Senhor não veio trazer à terra (Mt X, 34)... se infere a guerra para conseguir a paz. Sê, pois, pacífico combatendo, para que com a vitória aportes a utilidade da paz aos combatentes (II-II c40 a1).

Até aqui, citações de Santo Tomás.

Aspiremos a viver na paz de Cristo, anunciada hoje pelos anjos, que é a que suscita os filhos de Deus, que é causada por amor, fomenta o verdadeiro amor e produz a unidade no bem. Por isso o Apóstolo diz: Justificados, pois, pela fé, mantenhamos a paz com Deus (Rm V, 1). Nestas breves palavras que resumem todos os mandamentos, porque onde está a verdadeira paz não pode faltar nenhuma virtude. E quê é estar em paz com Deus, senão querer o que Ele manda e não querer o que Ele proíbe? Sabemos que, conforme o testemunho do Apóstolo São João, o mundo inteiro está sob o poder do Maligno (I Jo V, 19), e que os demônios trabalham com inumeráveis tentações para que o homem disposto a escalar ao céu se espante com as adversidades ou se abrande com a prosperidade; mas é mais poderoso o que está em nós, que aquele que luta contra nós não pode ganhar nenhuma batalha aos que tem paz com Deus, os que dizem sempre de todo coração ao Pai: faça-se Tua vontade (São Leão Magno).

Se nós resistimos combatendo contra o mal, atrairemos a inimizade do que é autor do pecado, mas nos asseguramos uma paz inalterável com Deus, porque se o que Ele quer o queremos nós, e se o que Ele reprova nós reprovamos, Ele livrará nós de todas as batalhas. Ele, que dá o querer, dá também o poder, e por isso diremos cheios de esperança: O Senhor é minha luz e minha salvação, a quem temerei? O Senhor é o defensor de minha vida, de quem terei medo? (Sl XXVI, 1) (São Leão Magno).


Estimados fiéis: o Natal, o dia do nascimento do Senhor, é por sua vez o dia do nascimento da verdadeira paz, pois como diz São Paulo, Ele é nossa paz (Ef II, 14). Todos nos aproximamos do Pai por meio de Cristo, quem no dia anterior a sua Paixão ensinava a seus discípulos esta doutrina: Minha paz os deixo, minha paz vos dou (Jn XIV, 27), mas a fim de que não se obscureça baixo o nome geral de paz a paz que nos havia de dar, disse: não vos dou como a do mundo (São Leão Magno). Exatamente o contrário faz o demônio através dos maus pastores que servem, sabendo ou não, a seus planos, obscurecendo a Verdade por meio de palavras ambíguas, confusas e equívocas. Não vos dou a paz como a do mundo, porque a paz dos mundanos provêm do inferno e a ele arrasta. É paz de cadáveres, ganhada mediante a remoção do grande obstáculo para a consecução da paz segundo o ideal liberal, maçônico e modernista: Cristo.
Tradução: Grupo Dom Bosco

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